PLANO DE CIDADE POSICIONAMENTOS PÚBLICOS

VALEU A PENA?

14/12/2018

EDUARDO AMORIM E ADRIANA SILVA

Inevitável se postar diante desta pergunta, feita pelo Jornal A Cidade, na última semana, referindo-se à trajetória política da ex-prefeita Dárcy Vera e não visitar Fernando Pessoa e sua célebre assertiva, de que ‘tudo vale a pena quando a alma não é pequena’. E dentro do silogismo permitido, ao responder que não valeu a pena, concluir que lamentavelmente faltou gigantismo da alma. E de longe não se trata de lirismo, o tema é político, a perda é tangível e os atingidos são todos os mais de 700 mil habitantes da cidade. Ribeirão Preto perdeu, assim como todos os envolvidos.  Desde a autoestima até a qualidade de vida.

A cidade foi escancarada e o que se viu foi o esforço de uns vencer a ocultação de outros. Os agentes públicos do Gaerco – Grupo de Atuação Regional Contra o Crime Organizado, a Polícia Federal, a Justiça e os demais envolvidos no trabalho de inteligência que investigou as denúncias foram imperiosos na busca pela verdade.

Um olhar para trás e a memória breve revela o uso inapropriado da máquina que nasceu para ser pública. O desvio, a quebra das regras, a apropriação indébita, a desvalorização do voto recebido, a destruição da crença na categoria dos políticos, são só algumas das perdas. Indo um pouco mais profundo, perdemos algo inestimável: a confiança. E, neste caso, é preciso muito mais do que cadeia, prisão e sentenças punitivas para restaura-la. É a confiança que nos move, sem ela, ficamos paralisados e, imóveis, sucumbimos. A letargia é danosa.

Ao matar a confiança, o grupo que passou, detentores temporários do Poder Executivo, permeados pelo Legislativo, matou também possibilidades. A cidade poderia ser melhor hoje.

O vento que soprou ao longo dos dois mandatos investigados girou redemoinhos, e a força das investigações redesenhou o cenário. Pessoas influentes, por décadas, sumiram do mapa. Novatos perderam a chance de se fazerem grandes. Homens de negócio, desistiram. Do populismo radiofônico até o sucesso nas urnas, então, os dias tristes no isolamento, uma linha do tempo amarga, traçada em dois extremos, levando a um lugar bem fundo, depois de ter sido carregada pelos braços do povo.

A falta de confiança trouxe a dúvida. Todos seguem arredios e a participação que já era pouca, ficou minguada. O caminho está traçado e as linhas mantidas no paralelo. Com a ausência de intersecção entre a política e a sociedade, fruto da quebra de confiança, há o fortalecimento de um modelo de gestão sem ganhadores. A cidade que era para ser forte, enfraquece.

Então, sem grande desfile de palavras, no ímpeto da pergunta manchetada na capa do jornal: não valeu a pena. O saldo ainda precisa ser pago, e mesmo que vitoriosos consigam liquidar uma dívida que se constituiu, há muito tempo deixou de ser somente uma questão de dinheiro. O que quebrou foi uma relação. Eles bateram na cidade e, machucada, ela sofre, assim como sofremos todos nós.

Mas da angústia, filha da crise, nascem ações inovadoras. Neste caso, vale pontuar a criação do Instituto Ribeirão 2030. A entidade reúne pessoas comprometidas com a cidade que cobram transparência na gestão, atordoados com tudo o que aconteceu, e apoiam ideias transformadoras, com destaque para a educação.

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