PLANO DE CIDADE POSICIONAMENTOS PÚBLICOS

CENTRO ADMINISTRATIVO: É PRECISO MAIS DO QUE UMA BOA IDEIA

07/03/2019

ADRIANA SILVA E OCTÁVIO VERRI

Faz muito tempo que Ribeirão Preto merece um Centro Administrativo à altura das suas potencialidades. Cidade polo da região metropolitana, 23ª posição no ranking nacional na geração do Produto Interno Bruto (PIB), aproximadamente 700 mil habitantes, referência em pesquisa na área da saúde, gigante na difusão do etanol, entre outras grandiosidades que elevam o município ao patamar de grande cidade do interior do Estado de São Paulo.

Construir um Centro Administrativo é quase como uma lógica, nem precisaria de argumentação a seu favor. Na verdade, o questionamento que reina é: por que só agora? Mas logo na sequência uma pergunta nos arremete contra o tempo que passou e, olhando para todos os lados, indagamos quase sem querer, se seria agora a melhor hora.

Assim o fazemos por compreensão da realidade financeira da prefeitura, não por problemas causados pela gestão que segue, mas por sucessivas anteriores. Os desgastes nas contas públicas vêm de mais longe do que duas gestões Dárcy Vera. Ao nos enfronharmos em estudos sobre o IPM, aprendemos que ao longo dos mandatos de Antônio Palocci, por exemplo, parcelas mensais dos previdenciários não foram repassadas. E por aí vai.

Mas não deixemos a pergunta sem resposta. Então, seria agora a melhor hora? Pode vir a ser.

Todos nós ribeirão-pretanos merecemos um Centro Administrativo. As ponderações dos representantes do poder Executivo, prefeito e secretários, parecem estar  bem construídas. Impossível seguir administrando 41 postos de trabalho diferentes, prédios inadequados para a fruição do serviço público, distantes uns dos outros, requerentes de serviços comuns como segurança, limpeza, recepção, telefonia, energia.

Levantamento feito pela secretaria de Planejamento mostra um custo mensal de R$ 355 mil apenas com aluguel desses endereços todos. Alguns deles, além de outros próprios da Prefeitura, escancaram problemas estruturais, de acessibilidade e até insalubridade.

Mas é sabido que o processo pode detonar com uma boa e necessária ideia. Se a execução não seguir o caminho do planejamento, o desastre é anunciado. É bastante desconfortável condenar um gestor pelos contínuos erros de outros. Não é o que o Ribeirão 2030 deseja fazer.

De imediato, somos todos a favor da construção do Centro Administrativo. Mas, um minuto depois, sinais de alerta ressoam tão insistentemente que histórias pregressas retomam e derramam desânimo. Não é medo. Não é desconfiança dos interlocutores proponentes do projeto. É só a história do Brasil passando na nossa frente.

Precisamos inverter esse sentimento, arregaçar as mangas, apagar essa imagem e fazer um novo desenho de Nação? Sim, precisamos.

Mas há, também, questões de momento que dificultam essa certificação. No dia a dia, as ruas esburacadas, filas de espera na saúde municipal, mais de 4 mil crianças sem vagas em creche, alteração em benefícios de funcionários,  plantam a dúvida quanto ser essa ou não a melhor hora. É possível conciliar recursos financeiros para o enfrentamento imediato dessas questões com a construção do Centro Administrativo?

O Executivo está convicto da possibilidade, tanto que já possui projeto arquitetônico para sua nova sede. Discussões, nesse âmbito, já são páginas viradas para o Palácio Rio Branco. Os representantes públicos se comprometem asseverando que a gestão do empreendimento será autossustentável. Em reunião na sede do Instituto Ribeirão 2030, o secretário do Planejamento explanou sobre as estratégias e, naquele momento, convenceu a maioria de que a obra só seria executada mediante a arrecadação de recursos atrelada a um conjunto de bens patrimoniais da prefeitura, disponíveis para comercialização.

O que fazer então? Comprometimento seguido de sugestões.

A primeira delas é a criação, na Câmara Municipal, de uma comissão constituída por vereadores e membros da sociedade civil, para acompanhamento de todo o processo de viabilidade financeira (arrecadação da venda de terrenos compatível com o valor do custo do empreendimento), detalhamento do projeto e definição correta do custo real, licitação e as obras propriamente ditas. Enfim, a adoção de uma postura transparente.

No caso de se efetivar a construção, a contratação de um seguro a ser pago se a construtora contratada falhar. Afinal, investimentos já estão sendo feitos. Queremos muito acreditar que tudo vai dar certo. Mais que isso, queremos colaborar para que as coisas ocorram como o anunciado

Não é pré-disposição ao insucesso, ou mesmo oposição à boa ideia, é só o brasileiro sendo brasileiro. É só o receio de que uma boa ideia naufrague. É a certeza de que não basta uma boa ideia para seguir, é preciso mais. Ninguém quer dizer depois: nós avisamos.

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